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Cecília Rita Ciarlini Barros

Apesar de ter nascido no Tatuapé, bairro na zona Leste de São Paulo, sempre viveu em São Caetano do Sul, assim como seus estudos. O curso técnico em Secretariado, a auxiliou em seu primeiro emprego na cidade vizinha, Diadema. Após o curso de Taquigrafia, conseguiu um emprego no colégio Eduardo Gomes em São Caetano do Sul. No final  de 1982, foi convidada pela Leila de Lourdes Charlini, secretária técnica no IMES, a substituir uma funcionária que entrara em licença maternidade, que ao fim da licença não retornou e Cecília foi efetivada. Trabalhou no Atendimento ao Aluno e na Secretaria Técnica. Em 2009 ingressou como aluna na USCS formando-se em 2011; nesse período foi a melhor aluna por duas vezes. Imagem do Depoente
Nome:Cecília Rita Ciarlini Barros
Nascimento:23/10/1962
Gênero:Feminino
Profissão:Enc. Serv. Secretaria
Nacionalidade:Brasil
Naturalidade:São Paulo (SP)

TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO DE CECILIA RITA CIARLINI BARROS EM 26/10/2016
Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de Cecília Rita Ciarlini Barros, 54 anos
São Caetano do Sul, 26 de outubro de 2016
Pesquisador: Luciano Cruz
Equipe Técnica: Ileane da Silva Ribeiro
Transcritora: Tayná Meireles Ruiz

Pergunta:
Bom Cecília, quero agradecer aqui a sua participação, a sua colaboração né... Queria que você começasse falando pra gente nome completo, local e data de nascimento.

Resposta:
Cecília Rita Ciarlini Barros, nasci no Tatuapé em São Paulo, dia 23 de outubro de 1962.

Pergunta:
Queria começar trazendo as suas lembranças né, o que você tem ai na memória sobre o seu convívio familiar, sobre a sua infância, sobre os seus pais... Fala um pouquinho aí desse início da sua vida.

Resposta:
Ah, no início da minha vida... Até hoje, é assim, muito família, muita união, eu tenho uma irmã, só uma irmã e agente está sempre junto. Então é... Pai muito protetor, mãe também, muito companheira. A minha irmã está sempre com a gente, então assim, desde criança muito feliz, eu não tenho uma lembrança que eu diga: "Nossa que tristeza". Graças a Deus né... Então assim, família muito pequena, mas muito unida, e assim, sempre um junto do outro, sempre que possível. Até hoje. Desde pequenininha até hoje.

Pergunta:
O que você lembra da sua infância no Tatuapé, você morava em casa? Como era esse convívio?

Resposta:
Não, não. Eu nasci no Tatuapé, mas sempre moramos em São Caetano tá... Então sempre aqui, estudei no Dom Benedito na época de ginásio né, que na aquela época era ginásio. É... Depois o ensino médio hoje, que na época era o colegial. Eu fiz um curso técnico de secretariado no Instituto de Ensino São Caetano, que hoje já infelizmente não existe mais. É... e depois de lá eu já parei. Eu não fiz faculdade lá atrás, vim estudar agora, depois já de um bom tempo e sempre assim, sempre casa, escola e depois quando terminei o técnico, aí então, foi quando eu comecei a procurar emprego e comecei a trabalhar né.

Pergunta:
É, em São Caetano, qual que é o bairro que vocês moravam?

Resposta:
Na Barcelona.

Pergunta:
No Barcelona mesmo?

Resposta:
É.

Pergunta:
Que localidade do Barcelona?

Resposta:
Na rua Piratininga, próximo a Keneddy. A rua Piratininga com a Keneddy.

Pergunta:
Uma casa ali né?

Resposta:
Casa, isso...

Pergunta:
Como que era, quem morava com vocês? A sua irmã era mais velha, mais nova?

Resposta:
Minha irmã é mais nova. Então meus pais, eu e minha irmã. Nós quatro.


Pergunta:
E como que era esse convívio, como era o bairro Barcelona na sua primeira infância? Assim, o que você lembra ali do Barcelona?

Resposta:
Ah, naquela época agente podia brincar na rua, jogar queimada, reunir com as vizinhas lá, a gente ficava no portão... Tinha um certo perigo, mas não o perigo de hoje, então era possível a gente ficar no portão conversando, ir na casa da vizinha, a tarde a gente jogava queimada numa outra ruazinha que tem lá, que é a Beijamin Constant né, esquina com a Piratininga, é uma rua mais tranquila, então a gente ia lá jogava queimada na rua, reunia as meninas. De manhã ia pra escola, a tarde era isso quando dava, não todos os dias claro né, mas assim, sempre junto. E, porque assim, o que que a gente tinha em casa? Televisão e rádio né, não existia celular, não existia internet, não tinha nada disso, então essa convivência, pessoa né, era praticamente todos os dias. Estava sempre com as meninas conversando, a gente quase não saia noite, porque também os pais não deixavam, era uma coisa assim, mais rígida no sentido de ficar mais em casa, não sair muito a noite, por ser mulher também né, então era mais em casa mesmo, no portão de casa ou no portão da casa da vizinha. Sempre assim junto, junto com esse pessoal, mas sempre ali próximo da residência.

Pergunta:
E sua irmã você disse que é mais nova...

Resposta:
Três anos mais nova.

Pergunta:
Três anos né. E como que era essa convivência com a sua irmã? Era aquelas irmãs que estavam ali, como você falou, faziam parte da mesma turma? Como que você...

Resposta:
Sim. É a gente estavam juntas, mas assim né, ela com a turminha dela e eu com a minha. As amigas até algumas em comum, mas sempre tinha aquela divisão né, essa aqui é minha turminha, essa é a turma dela, mas sempre próximas umas das outras ali. Não ficava distante não, mas sempre assim também, porta de casa, ia pra escola, voltava. Não tinha muito essa coisa de sair pra balada, nada disso, mas sempre ali... Eu sempre fui muito casa né, nunca liguei muito, assim, não tive uma adolescência rebelde de falar: " Ai não, eu quero! Porque eu quero ir! Não sei o que..." Não, não tinha isso, eu aceitava... O não era não e, tudo bem... As vezes até questionava um pouquinho, mas meu pai falava: "Não" e tudo bem, tá certo. Agora minha irmã já tinha uma personalidade mais assim, impulsiva: "Não, porque eu quero, porque eu quero!" Ela até ganhava algumas coisas, ela conseguia sabe, ganhava pela persistência. Mas sempre numa boa, a gente sempre se deu muito bem, quando possível estávamos juntas. Ela gostava de algumas coisas que as vezes eu não, então sempre assim, juntas mas não grudadas uma na outra, cada uma tinha seu grupinho de amigos lá, mas sempre próximas uma da outra né. [5']

Pergunta:
E... Qual que é a recordação que você tem do início da escola? Você citou o dom benedito né... Como foi esse começo de aula, como foi essa rotina, como foi o impacto para você desse início?

Resposta:
Olha, uma lembrança que eu tenho do dom benedito, que é uma coisa assim que me marcou muito é que na época da semana da pátria né, então as escolas faziam aquele desfile na avenida Goiás, então assim, isso pra mim era muito legal, eu gostava muito de participar sabe... Tinham vários pelotões né, então podia ser em qualquer um, podia ser até só uniformizada, mas eu achava aquilo muito bacana e teve um ano que eu participei de um pelotão, fizemos roupa, era uma calça branca, uma blusa azul marinho, uma camisa azul marinho com um pouquinho de brilho e na hora do desfile, uma das meninas que tinham um papel lá de uma fantasia de destaque, ela não pode ir por alguma razão, e na hora lá eu percebi a diretora desesperada: "E agora!? E agora!? Falta um!" E eu na brincadeira, virei pra ela e fiz assim: "Ah, eu posso participar! Eu vou!" Mas falei achando que jamais ela iria me colocar, até porque a gente ensaiava tanto antes, não achei que numa última hora assim ela fosse me colocar lá. E de repente ela trocou minha roupa lá: "Não, pode vim, vamos lá, vamos colocar a roupa!" Aí me troquei, fui para um outro pelotão e minha mãe estava assistindo e ela não ia saber que eu não estava naquele pelotão né... [risos] E a minha preocupação no desfile era tentar mostrar pra minha mãe que eu estava em outra posição lá no desfile. [risos] Mas você precisa ver aquela sensação assim, você está desfilando e procurando: "Cade minha mãe, cade?" [risos] E aí minha mãe me viu, ela estranhou, não entendeu nada né, falou: "Como assim?" E aí, eu fui... Isso me marcou demais, eu achei muito legal e pena que não tem mais isso né. Os meus filhos não passaram por essa fase de desfile e era assim, era uma coisa muito ensaiada, a gente marchava mesmo, tinha que ensaiar com a fanfarra... Uma recordação muito linda, eu gosto, lembro disso fico muito feliz, era uma coisa que me deixou assim... Feliz em poder participar, em ter todo aquele trabalho, a gente via o empenho dos professores, diretor. Ficavam quase malucos né, porque era um desfile grande, não era um pelotão, tinha fanfarra, tinha esse pelotão, aquele, aquele, aquele, era uma coisa muito bacana...

Pergunta:
Legal, que bacana... E seguindo essa trajetória, como que foi esse inicio aí, nesse aumento das responsabilidades mesmo em relação a notas né... Como foi esse amadurecimento no colégio até você chegar como você disse no que a gente chama de ensino médio?

Resposta:
Então, eu sempre fui uma boa aluna, não uma excelente aluna de notas dez, nove, mas sempre fui uma boa aluna. Acho que eu nunca fiquei de recuperação, se é que fiquei uma vez... Sim fiquei uma vez sim, nem sei se o nome era recuperação mas enfim uma segunda época, e era a matéria ciências e eu lembro que aquilo me deixou arrasada né, porque eu nunca tinha passado por aquela situação e aí eu lembro que eu tive que estudar muito porque eu tinha que tirar lá uma determinada nota que se eu não tirasse eu não ia passar e naquela época não passava mesmo né... E aí minha mãe tem um irmão e ele vinha para estudar comigo todas as noites e aí sabe aquele estudo assim onde você era pior que um professor por que ele chegava lá: "Ó, hoje você vai estudar isso, amanhã eu venho tomar". E foi ali sabe, todos os dias ele vinha, nossa aquilo me marcou muito. E eu consegui, tirei uma nota boa e passei mas [risos] ele pegava no meu pé firme ali viu para eu estudar.

Pergunta:
E como foi esse processo de decisão para optar pelo técnico em secretariado?

Resposta:
É, foi aquela coisa assim: "E agora, o que é que eu vou fazer?". Então na época como o curso técnico era uma coisa assim muito procurada por quem podia pagar escola né... Aí, tinha lá a opção técnico em química, secretariado, contabilidade, e aí de repente eu falei: "Não né, mas meu Deus contabilidade, química, eletrônica, isso não tem nada haver comigo né... Aí eu optei pelo secretariado por que eu falei: "Bom, é um caminho para abrir portas lá para eu conseguir um emprego seja lá qual for, mas fazendo um técnico de secretariado eu devo conseguir mais fácil né, conseguir um estágio depois, poder aprender para começar a trabalhar". E aí eu fui mas tinha que pagar né e aí ficou meio complicado mas nós tivemos ajuda desse meu tio que me ajudou a estudar e passar nessa disciplina aí que eu fiquei de recuperação, e ele ajudou, começou a pagar a escola pra mim. No primeiro ano ele pagou e depois, eram três anos né e aí no segundo meus pais já se programaram para continuar a dar continuidade nesse pagamento e aí teve todo essa ajuda dele, maior apoio, maior incentivo para me colocar lá sim, porque ia ser bom pro meu futuro, e aí eu gostei muito. Aquela época a gente aprendia muito na escola né, então assim, eu lembro que um curso de inglês hoje que todo mundo vai fazer um curso de inglês fora porque precisa ter uma base mais sólida, aprendemos muito inglês, fiz o inglês lá. Terminei o curso sabendo sim o inglês com uma base muito boa claro que depois eu tinha que dar uma continuidade para poder me aperfeiçoar mas, aprendi muito, foi uma época que foram 3 anos da minha vida muito bons, onde eu aprendi muito e sai feliz da escola, eu fui no impulso porque realmente tinha muita dúvida no que escolher mas percebi que tinha tudo haver comigo sim, gostei, aprendi bastante...[10']

Pergunta:
Qual que era a escola?

Resposta:
O instituto de ensino são caetano.

Pergunta:
E o nome do seu tio?

Resposta:
Remo Boreli... É meu tio...[risos]

Pergunta:
Bom, nesse momento então você ainda não estava no mercado profissional né, você estava estudando... Qual que era a sua rotina? Como que era o dia aí nessa época que você estava no ensino médio?

Resposta:
Bom, a aula era pela manhã né, então de manhã eu ia lá para o instituto são caetano que era ali na rua Baraldi com a Amazonas. Então eu ia para lá de manhã, saía por volta da uma hora, depois a tarde eu ficava em casa, aí então eu tinha que estudar, fazer trabalho, quando tinha trabalho para fazer a gente, naquela época nem telefone tinha em casa mas a gente procurava já combinar na escola como que, onde a gente ia fazer o trabalho, como que ia fazer, na casa de quem, se era na escola... Então assim, a tarde era reservado para ajudar minha mãe em casa, para fazer as tarefas e só. Era isso, manhã para a escola, a tarde fazer os deveres de casa, ajudar minha mãe e fazer as tarefas né da escola, dos trabalhos...

Pergunta:
Você falou em determinado momento da televisão, você lembra de alguma coisa que você acompanhava na televisão?

Resposta:
Ah toda tarde a gente assistia Jeannie é um gênio, que era o que eu mais gostava. Tinha a A Feiticeira que eu não gostava muito não mas a Jeannie eu achava o máximo né.[risos] É... Esses dois programas a gente tinha todas as tardes, passava na televisão. E depois a sessão da tarde, que era a Rede Globo né, então sessão da tarde, mas o que marcava a tarde era essa, era Jeannie é um gênio ou a A Feiticeira que era de segunda, quarta e sexta Jeannie e terça e quinta A Feiticeira. Eu não perdia, toda tarde era isso, aí depois fazia, sentava assim no chão, na mesinha da sala assistindo televisão com os meus cadernos lá e aí assim, assistia e depois estudava um pouquinho e... A tarde era assim, toda tarde isso...

Pergunta:
E como foi o processo para esse ingresso no mercado de trabalho?

Resposta:
Então, quando eu cheguei na terceira série lá do secretariado, a própria escola fornecia meios da gente fazer estágios, ou uma Wolksvagem ou uma GM, então eu fiz muitos testes para ir nesses lugares fazer, por fim achei melhor não ir, cheguei a fazer sim esses testes até para aprender, passar por esse processo todo, mas acabei não terminando um na Wolks, na GM não cheguei nem a ser chamada para entrevista, mas na Wolks eu cheguei sim. Só que aí, eu achei assim que era muito longe, muito fora de mão, muito complicado, eu não dirigia. Aí, meus pais falaram: "Olha, não é melhor você procurar uma outra coisa, vamos começar por aqui..." E aí eu achei assim, talvez nem tenha sido a decisão correta, mas achei melhor abrir mão, nem fui em uma entrevista lá que eu já estava praticamente nos finalmente para fazer o estágio né, porque eu ia estagiar. Então meus pais disseram: "Não, termina. Primeiro estuda." Porque eu ia trabalhar e estudar, eu ia ter que mudar para a noite, ia fazer uma mudança muito radical, e eles acharam melhor, eu tinha 17 anos naquela época, eles acharam melhor eu não...Deixar isso mais para frente. E acabei não indo, então aí eu terminei o secretariado para então eu começar a trabalhar no ano seguinte. Eu comecei em uma empresa em Diadema, fui trabalhar de secretária e também esse meu tio Remo ele trabalhava lá e aí ele falou: "Ó, se você quiser eu consigo um estágio", não seria um estágio porque eu já estava formada mas: "Você fica lá por um tempo, vamos começar e você começa na área de secretária mesmo, você vai trabalhar lá com o pessoal da produção mas secretariando o chefe da produção e aí se você gostar, se a empresa achar que você tem que ficar você segue, vamos ver o que acontece". E eu fui, mas era muito longe, eu tinha que pegar um ônibus e ir até o Parque Dom Pedro e aí pegava um outro que ia lá pro lado do zoológico pra depois chegar na empresa, eu parava praticamente na porta da empresa mas assim eu entrava oito horas, eu saia de casa cinco e meia da manhã para poder chegar lá. Então fiquei, fiquei quatro meses lá, aprendi muito, gostava muito do que eu fazia, mas assim, estava muito difícil, aí resolvi sair de lá. Aí pedi para sair, fiquei aquele ano até o final do ano procurando emprego, fui fazer taquigrafia, tinha taquigrafia [risos], fui aprender a fazer... [15']

Pergunta:
Explica para gente o que é taquigrafia.

Resposta:
A gente...Eu aprendi, claro que no secretariado eu tinha aula de taquigrafia, era então quando a gente, é...Você ia secretariar uma reunião e a gente tinha vários símbolos, "sinaizinhos" para poder redigir tudo aquilo de uma forma mais rápida porque não se gravava, não tinha computador, não tinha nada, nem CD, nem gravador, então para poder deixar tudo anotado de uma forma em símbolos para que depois eu pudesse passar isso, fazer a ata da reunião e tudo mais... Então fui fazer um aperfeiçoamento de taquigrafia, fui aprender o tal do telex, fax né, nem era fax era telex, acho que era telex, nem lembro... Era um aparelho também que era para passar, era tudo símbolos que você aprendia a fazer para poder transmitir as mensagens e tal, não era nem o fax ainda. [risos] Eu fui fazer um curso desse e depois então naquele final de ano, no início do ano seguinte isso foi em 1981, em 82 eu consegui um, consegui através de uma pessoa que eu conhecia que trabalhava lá na USCS que era o IMES né, trabalhava no IMES uma oportunidade para trabalhar no colégio Eduardo Gomes que ia ocupar o espaço lá do IMES, uma ou duas salas e estava se estruturando através do professor Oscar Garbelotto e precisava de alguém para cuidar daquilo tudo. Então fui pra lá, e aí assim muito insegura porque eu nunca tinha trabalhado em uma escola e aí então eles me disseram: "Olha, você vai fazer um pouquinho de tudo", o professor Oscar na época era quem cuidava junto com os rotaryanos né, que levou o Eduardo Gomes para o IMES na época, tinha o professor Milton Andrade que era o diretor, eu e a Leila de Lourdes Charlini que era secretária na época, secretária técnica do IMES que também ia secretariar o Eduardo Gomes e me levou para poder trabalhar nessa parte administrativa né, então para cuidar de tudo. Eu cuidava dos alunos, das listas, xerocava provas, estava tudo concentrado ali na gente, porque a escola estava começando. Tinha uma turma do ensino médio, uma do fundamental, então eu cuidava da sala dos professores, cuidava do diário de classe...Tudo, toda essa parte, toda essa rotina de escola estava concentrado lá, eram duas salas só, então comecei com eles e fiquei um ano trabalhando no colégio Eduardo Gomes, lá nas dependências do IMES, na época IMES... E aí nesse ano, 1982, quando chegou no final de 82, o IMES tinha uma funcionária que ia ter bebê, então a Leila, secretária técnica do IMES que também estava em paralelo ajudando o colégio Eduardo Gomes pela manhã, ela me convidou para substituir essa funcionária que ia se ausentar de licença a maternidade e aí eu fui, fui para lá e sai do colégio, até fiquei acho que alguns meses trabalhando de manhã no colégio porque no IMES era tarde e noite né. E comecei assim, cuidando de provas, naquela época tinha uma funcionária que cuidava de provas então lista de provas, guardar as provas, então ela saiu e eu fiquei no lugar dela até o retorno dela em 83 que ela deveria retornar, que foi quando ela não retornou e aí então eu saí do Eduardo Gomes e acabei entrando no IMES. [20']

Pergunta:
Cecília, eu queria que você desse alguma visão... Então você como moradora do Barcelona já conhecia o IMES antes dessa experiência de estar aqui dentro do IMES né, qual que era a imagem que o morador ali de São Caetano tinha da instituição e qual que foi a imagem que você passou a ter neste início, nesse seu primeiro contato com o IMES?

Resposta:
Então, na verdade eu não conhecia o IMES, eu conhecia aquele prédio: "Olha, tem um prédio ali". Até porque ali era uma passagem praticamente para Santo André, era o local que de pouco acesso. Mas nós sabíamos que existia lá, aquele prédio: "Poxa tem um prédio ali, o que é aquilo?" Assim, eu não tinha noção do que era aquilo, até porque quando eu terminei o secretariado, que eu fiz sim um vestibular, eu fui fazer lá na Metodista, fui fazer o vestibular lá na Metodista para um curso de psicologia, totalmente sem a noção: "Pra que fazer psicologia? Não, mas eu vou fazer psicologia, porque eu fiz secretariado, de repente eu vou trabalhar num lugar onde eu possa trabalhar com a psicologia." E aí, eu achei que não devia ir, passei no vestibular sim mas, acabei não indo para lá. Então assim, eu não tinha nem a noção de que a gente tinha uma faculdade dentro de São Caetano. Quando eu fui para lá, trabalhar no Eduardo Gomes, foi quando eu passei a conhecer o prédio de uma faculdade em São Caetano. Então assim, eu realmente não tinha essa noção do que era o IMES, só quando eu fui para lá que eu conheci a faculdade.

Pergunta:
E como era o IMES em 1982?

Resposta:
Ah, era um prédio que era só hoje o nosso prédio B né, então era um prédio todo de concreto, com aquelas salas de aula, onde a parte administrativa fazia parte do prédio B, que hoje tem várias salas ali, mas era uma parte só da área administrativa, as salas de aula, um estacionamento na avenida Goiás e uma escola assim onde os alunos tinham uma dificuldade muito grande, lutavam muito por uma vaga dentro daquela escola, só depois eu fui enxergar isso né, as aulas eram no período da tarde e noite, existe um período vespertino que eu nunca imaginei na minha vida que uma faculdade pudesse ser das cinco às oito da noite né, e aí aos pouquinhos a gente foi conhecendo tudo aquilo, agora a hora que eu passei a trabalhar na secretaria, que foi quando eu vi como era grande aquilo né, apesar que em vista da nossa USCS hoje, era muito pequenininho, mas sim, tinha os alunos que lutavam muito por uma vaga, davam muito valor por aquele lugar, por conseguir aquilo. Em época de vestibular, a gente presenciou, que marcou demais, as chamadas sendo feitas assim, porque a gente tinha um número de candidatos aprovados muito maior do que o nosso número de vagas, então assim, o quanto querer e o quanto era difícil conseguir, quando a gente chamava lá, um determinado curso até o número duzentos e eu era o duzentos e um e eu sentava no corredor e chorava porque não chegou em mim, sabe aquilo marcou muito, o quanto era difícil entrar, como eles lutavam por um lugar ali, e queriam muito bem né, eu acho que o aluno que naquela época conseguia uma vaga na faculdade, eles tinham que valorizar muito aquilo, porque muitos ficavam ali chorando, sentavam num cantinho lá, abaixavam e choravam que ainda não tinham sido aquela hora, não era aquele ano dele sabe, oportunidade ainda não chegou minha vez, vou ter que voltar de novo ano que vem. E era anual né, então uma vez por ano só, então assim, era uma coisa que fazia com que a gente via o quanto era importante para aquelas pessoas chegar ali e a alegria de quem conseguia, pintar a cara, festejar, comemorar... Era muito bacana de ver aquilo. [25']

Pergunta:
Explica pra gente como era alguns procedimentos, de como eram feitas as coisas ali no IMES naquela época, que hoje acredito que com a evolução tecnológica você de repente fala: "Como que a gente fazia isso dessa forma né". Como que era o dia a dia da universidade com a tecnologia da época?

Resposta:
Na época, quando eu entrei, quando eu comecei, a parte de informática ainda não estava lá dentro da escola, então a gente recebia as listas, listas de presença, por exemplo, em sala de aula, então a gente recebia no final da semana as listas da semana seguinte já da semana toda, então isso tudo era entregue ao professor diariamente, as listas e a gente recolhia. Vou começar pela chamada né, então a lista de presença que era a primeira coisa assim que era, vamos dizer a mais informatizada, que as listas vinham, o aluno assinava, aí a gente carimbava quem não vinha e devolvia, para que isso fosse processado. Se eu não me engano, eu não tenho uma lembrança precisa disso, porque eu não participava diretamente assim, mas as listas eram nessa parte de informática naquela ocasião se eu não me engano era no subsolo do prédio B, ou não... acho que vinha da SEB e depois de um tempo passou a ser ali no subsolo do prédio B, e depois então é que a gente passou a ter a informatização ali. Eu não tenho a precisão, não tenho a lembrança disso tudo agora assim para poder te dizer, a gente trabalhava com essas listas só que era tudo muito manual, então eles assinavam, você tinha todo dia que pegar aquele bolo de lista, carimbar a ausência, era tudo muito manual.

Pergunta:
O que que era é SEB?

Resposta:
Então, a SEB era uma empresa que trabalhava com informática. Eu não tenho nem certeza se era exatamente esse o nome, uma empresa de informática que prestava serviços para que fizesse todo o processamento dessas listas e tudo mais.

Pergunta:
Onde ficava a sua sala?

Resposta:
Minha sala era hoje no prédio B, no corredor das salas onde tem o monitoramento hoje, aquele corredor, eu não sei o numero das salas ali, a sequência, 78 acho que é a última lá em baixo do corredor né, do prédio B hoje. Era no prédio B, era a minha sala e toda a parte administrativa ali do prédio B até o fundo, tinha uma copinha ali. Então era a secretaria, a contabilidade, depois tinha uma copa, depois a diretoria, toda a lateral ali.: "Você tem a lembrança dos números ali das salas hoje?"

Pergunta:
Não, mas acho que já deu pra gente ter uma ideia... Ali no prédio B na parte do fundo, indo para a Conselheiro Lafayette e que na época era uma rua aberta ali né..

Resposta:
Isso, isso. E do outro lado do prédio B, era a sala dos professores, no cantinho ali no fundo, era a sala dos professores, depois tudo sala de aula.

Pergunta:
Cecília, queria que você dissesse um pouquinho como que foi o desenvolvimento da trajetória do IMES, quer dizer, desse IMES lá de meados dos anos 80 né. Como que você acompanhou as evoluções, as mudanças que essa instituição passou em paralelo com as mudanças que a Cecília foi passando né, você morava ali com seus pais, adolescente que estava ali né, chegando ao seu segundo emprego né. Me fala um pouquinho de como foi essa evolução, tanto da universidade que você viu acontecer dentro da universidade e a sua também, não só sua vida profissional mas também a sua vida pessoal. [30']

Resposta:
Então, ah... Bom, a evolução do IMES, ela foi imensa né. O IMES foi crescendo, cursos foram sendo colocados a disposição dos alunos, número de vagas foi aumentando, fizeram prédios novos, tudo isso foi crescendo aos poucos e junto disso a minha vida foi mudando também, de uma forma assim, eu enxergo assim, assim como o IMES cresceu, amadureceu, e hoje é tudo que nós temos hoje, essa nossa universidade, a minha vida mudou também porque eu era uma jovem, uma menina, e dentro de toda essa estrutura eu cresci, eu casei, eu tive os meus filhos, então assim, eu enxergo dessa forma, o IMES tinha 4 cursos e de repente aos pouquinhos isso foi crescendo e crescendo e o IMES foi amadurecendo, se tornando essa coisa grande e experiente que é hoje e eu acho que eu cresci junto na minha vida pessoal, independente da profissional, claro que a gente vai aprendendo também, mas assim, eu enxergo uma coisa muito parecida, porque eu era uma menina e o IMES quando eu cheguei lá ele já tinha um tempo de vida, mas ele é de 68 e eu sou de 62, então da mesma forma que eu evolui na minha vida pessoal e amadureci, ele também né... E também hoje ele é tudo isso que ele é, teve todo os seus frutos ali né.

Pergunta:
O que a USCS representa na sua vida?

Resposta:
A USCS é... O tudo é muito abrangente, mas digo assim, lá eu aprendi muita coisa, eu cresci, eu formei a minha vida, tudo que eu tenho claro que em primeiro lugar a Deus, depois a todo o apoio da minha mãe e do meu pai, que se não fosse eles talvez hoje eu não estaria lá e assim ele me proporcionou as minhas conquistas, a minha casa, formar os meus filhos, que eu formei os meus dois filhos na USCS né, hoje USCS. É(...) Então assim, ele é pra mim uma estrutura muito sólida, onde eu agradeço imensamente as pessoas que lá passaram, que me deram a oportunidade de aprender e de me deixar lá até hoje. Tudo bem que eu me dedico muito, mas eu acho que as pessoas tem que te dar as oportunidades para você poder aprender e para te colocar em desafios, que me colocaram sim, hoje ainda é um desafio, a gente não sabe ainda o que estar por vir, mas o crescimento foi muito grande né, eu tinha 20 anos quando cheguei na USCS. Então eu aprendi tudo que eu sei, eu aprendi lá. Claro que depois de um longo tempo eu fui estudar, que também isso é muito importante, mas eu aprendi praticando e observando pessoas que tem e tinham um conhecimento maior que o meu, para poder me espelhar nela sabe? Tentar melhorar... Tá eu não fui estudar antes porque eu tinha uma outra prioridade que era a minha família, era minha casa. Porque isso tudo cresceu assim em paralelo, eu não podia abandonar uma coisa para me dedicar cem por cento a outra, mas apesar de eu não poder estudar naquela ocasião, eu procurava aprender com as pessoas que conheciam mais que eu, que estavam ao meu redor o tempo todo, professores, os diretores, os reitores. Então assim, todos me ajudaram, me ensinaram, eu me dedico e me dediquei muito, mas tudo isso é um conjunto de coisas que me fizeram chegar onde eu estou hoje. E assim, a ajuda dos meus pais para poder ficar com os meus filhos quando eles nasceram, foi fundamental para que eu pudesse continuar lá, o incentivo deles com toda dificuldade, que eles já tinham idade, tinham lá suas preocupações, mas todo o apoio deles, do meu marido também claro, mas o meu marido precisava da minha ajuda para gente crescer junto né, mas os meus pais foram fundamentais para eu poder chegar onde eu cheguei. [35']

Pergunta:
Como é a sua rotina hoje na USCS? Se é que existe uma rotina...

Resposta:
Lá na USCS? Bom... muito dinâmico hoje né, porque hoje nós estamos num curso semestral, onde assim, quando a gente pensa que as coisas estão começando a acalmar, recomeça tudo. Então, a gente procura sempre trabalhar, já pensando no que vai acontecer daqui a pouquinho, porque a gente lá na secretaria não tem muito uma rotina muito tranquila, então o que a gente faz é chegar lá, colocar tudo que precisa em dia para poder trabalhar com segurança, atender o aluno com segurança, atender os professores, os gestores, a própria reitoria e pró reitoria e já se programar para o que estar por vir. Então hoje por exemplo, nós estamos numa época em que a gente conseguiu acertar todo aquele tumulto de início de semestre e já estamos nos preparando para o que está chegando aí, por que mês que vem a gente já começa tudo de novo, então não existe muito uma rotina tranquila, mas sempre se programando para que não tenha apuros no que está por vir, o período é curto, são dois meses, um mês e meio de muita intensidade de trabalho, então a gente procurar deixar tudo já esquematizado para poder atender o aluno da melhor forma possível, alunos, professores, enfim, tudo. Porque todos eles estão envolvidos com a gente né.
Pergunta:
Queria detalhar um pouquinho mais essa trajetória. Então você falou que quando você entrou na USCS a sua função era, pela própria área né, era cuidar ali das listas de presença, de provas né, esse apoio aos professores. Depois você falou que a instituição foi crescendo muito, como isso foi caminhando? Quais foram os passos até a gente sair daquela estrutura inicial para a estrutura que a USCS tem hoje? Com secretaria técnica, atendimento ao aluno, departamento financeiro... Fala um pouquinho sobre isso.

Resposta:
Naquela ocasião na verdade estava tudo muito concentrado na secretaria, tinha um local, era um ambiente só mas tinha um guichê onde eles chamavam de protocolo, onde nós também atendíamos os alunos, então assim, estava tudo muito lá, sala dos professores nós cuidávamos, atender o aluno nós cuidávamos, fazer documento, tudo lá na secretaria. Depois com esse crescimento, com esse desenvolvimento todo da universidade, eles foram desmembrando o setor da secretaria em outros setores. Então criaram o atendimento ao aluno, que era para a secretaria poder trabalhar internamente de uma forma mais tranquila, porque a gente fazia todo o trabalho burocrático mas também atendíamos os alunos, então a gente tinha que fazer essa divisão. Então quando criaram o atendimento ao aluno, esse atendimento saiu da gente, então a parte de trabalho mais manual sem ter o atendimento, a não ser por telefone, passou a ser mais tranquilo porque a gente podia se dedicar melhor entãoa gente tinha esse atendimento ao aluno que trazia pra gente a solicitações dos alunos, então ficou mais tranquilo. Depois saiu a sala dos professores, então uma pessoa ficou na sala dos professores, por que a sala dos professores a gente também no horário de intervalo, no horário de início de aula, alguém da secretaria saia e ia atender os professores. Então assim, ela passou a ser com o crescimento da universidade, ela passou a ser desmembrada né, para outros setores, outras pessoas, até porque a escola cresceu demais. Lá em 1983, nós tínhamos o quê? oitenta professores? Três mil alunos, dois mil e quinhentos alunos... Hoje a coisa cresceu demais, então aquelas dez, quinze pessoas não dariam conta de atender tudo isso mesmo, e hoje então a coisa esta mais assim, a nossa secretaria hoje, sim nós atendemos os professores, os gestores e tudo mais, mas nós estamos mais concentrados no aluno, desde o ingresso até a saída dele. A sala dos professores, então lá a gente tem a pessoa responsável, o atendimento ao aluno, a parte financeira, ela só desmembrou né. Tudo isso está em uma engrenagem só, por que se um deles não funcionar direito, se a gente não funcionar direito, vai impactar claro nesses setores todos. Então assim, era uma coisa toda concentrada na secretaria e depois com todo esse desenvolvimento aí, as coisas foram se desmembrando mas somos todos uma coisa só, uma engrenagem só. [40']

Pergunta:
Você citou né, que antes, naquele momento você e a secretaria técnica tinham mais contato com o aluno, mas esse contato nunca deixou de existir, quer dizer, você ainda tem um contato com o aluno né. Queria que você falasse um pouquinho sobre o aluno da USCS, como era esse aluno? Como ele é hoje? Você nota alguma diferença? Você tem alguma história ou uma coisa que você possa falar para gente dessa sua experiência, desse seu atendimento, dessa sua convivência com o aluno da USCS?

Resposta:
Ah, tenho sim. Até por que eu fiquei um bom tempo no atendimento, depois de toda essa divisão aí, eu fiquei quase dez anos no atendimento ao aluno e depois agora voltei para secretaria, mas assim, hoje atende o aluno também, mais por telefone do que pessoalmente, mas tanto naquela época, a minha experiência naquela época como um setor só, como quando eu fui para o atendimento ao aluno, e hoje voltando para a secretaria e também tendo que atender aluno, assim, é muito gratificante lhe dar com pessoas, porque assim, você faz o seu trabalho, procura ajudar, porque tem situações que o aluno vem num desespero tão grande, tão sem chão, por algum problema de nota ou por que reprovou, ou porque tem que parar de estudar, com problemas pessoais e ele acaba colocando para gente de uma forma ou de outra quando ele vem pedir uma ajuda e que talvez você não possa atender ele da forma que ele quer, mas quando a gente consegue mostrar pra ele que o não tem uma razão de ser e que aquilo que ele esta pedindo não pode ser daquela forma mas que a gente pode tentar ajudar de uma outra forma(...) Isso ele entende, ele aceita, vê que o problema dele é grande, mas que não é uma coisa que não tem solução... Isso é uma coisa rotineira, então você faz isso, você nem percebe que você esta fazendo e aí passa um tempo, um ano, dois, seis meses, eu não sei precisar um tempo, mas passa um tempo e ele volta lá para você e você nem lembra que um dia você orientou, que você ajudou esse aluno, e ele chega lá e fala assim: "Ó Cecília, obrigada viu. Se não fosse você lá aquele dia, você lembra? Eu acho que hoje eu não estaria formado." Gente, isso é uma coisa tão grande, porque você esta lá no seu dia a dia e você orienta ou você ajuda ou você informa como se fosse uma informação muito corriqueira, e você não tem noção do quanto é importante para aquela pessoa, como muda a cabeça, porque ele não volta no dia seguinte e te fala: "Ó, legal. Vou fazer isso mesmo." Passa o tempo e ele volta, isso aconteceu comigo. O aluno me pegou tão de surpresa, ele passou lá um dia no atendimento e disse assim: "Cecília, eu vim te agradecer", eu falei: "Ah tá, o que que aconteceu?", ele falou: "Lembra aquele dia...", mas tinha passado um bom tempo: "Se não fosse a tua orientação, se não fosse a tua ajuda, eu acho que hoje eu não estaria formado". Gente isso é de uma coisa assim que não tem preço, é muito gratificante. Então assim, eu acho que são essas coisas que a gente tem que guardar sabe? De aluno... Porque claro, você está atendendo um ser humano, tem muitos problemas, tem gente que te desrespeita, que te desacata, mas não é isso que tem que ficar, são essas lembranças que tem que ficar. De repente ele voltou do nada e fala para você: "Ó, muito obrigada, se não fosse você eu acho que hoje eu não estaria formado". Poxa gente, isso não tem preço né, é uma lembrança muito linda, aconteceu comigo sim, isso aconteceu e eu guardo com muita saudades porque hoje eu não tenho esse contato direto com o aluno, eu tenho por telefone e ainda assim alguns me agradecem: "Ó, obrigada viu, valeu a tua ajuda, valeu o que você colocou." Mas, quando você está lá, assim, de frente com o aluno é muito bom, é muito legal... Só que tem que gostar né, você tem que gostar de estar lá, porque é muito desafiador, você tem que ter um controle muito grande, eles te tiram do sério sim, por isso que tem que gostar, aliás eu acho que tudo que a gente faz na vida, se você não faz com amor e se você não gosta do que você está fazendo a gente não consegue. Aquela historinha né, você tem obstáculos, tem pedras? Pega essas pedras e faz um castelo né, então é mais ou menos por ai, a gente tem que(...) As coisas que não são boas, eu acho que a gente tem que fazer com que ela se transformem para que a gente possa passar de uma forma menos doída pelos obstáculos, porque eles existem né? Então para isso a gente tem que gostar do que a gente faz. E gente, eu gosto do que eu faço, sempre gostei. Passei por várias situações, e assim, tudo aquilo é o meu mundo sabe, é por isso que eu estou até hoje aqui né. [risos] [45']

Pergunta:
E a relação com os professores?

Resposta:
Ah, muito boa, muito, muito, muito. Eu acho assim, alguns anos atras eu acho que isso era uma coisa mais rígida, porque a formalidade tinha que ser muito mais presente do que ela é hoje, mas sempre tratei todos eles com muito respeito e eles sempre me respeitaram muito também, então eu não tenho nenhuma lembrança de uma coisa que tenha me marcado demais, que um professor tenha feito para mim. Claro, as vezes um não concordar do que eu to pedindo, do que eles querem, a gente as vezes não é uma coisa assim: "Ó, não acho isso legal, não deveria ter sido dessa forma", mas sempre com muito respeito sabe? Como uma amizade, eles vem, as vezes me encontram, alguns que as vezes a gente não vê diariamente: "Oi Cecília, tudo bem?" Assim, sempre um convívio bom, na época em que eu tinha um convívio direto com eles, por que sim, lá atras a gente tinha um convívio direto com os professores, só que hoje assim, como cresceu demais, a gente não conhece todos mais né? Lá quando eu entrei, nós conhecíamos todos, e todos conheciam todos os funcionários da secretaria, da escola, de toda a instituição. Hoje não, hoje eu acho assim, está um pouquinho mais distante no sentido da gente não tem um convívio diário, até porque tem a sala dos professores, esse convívio diário é a Nanci que passa por ele hoje, mas sempre passam lá na secretaria: "Cecília tudo bem?" "Meninas, tudo bem?" Um convívio bom.

Pergunta:
E como foi esse seu retorno às salas de aula né, você falou que ficou um tempo, e depois voltou a estudar né? Me fala um pouquinho sobre esse retorno.

Resposta:
Então, eu voltei a estudar em 2009 e me formei em 2011. Ah, foi uma sensação muito boa, uma sensação de ser aluna, eu acho que o "ser aluno" quando se tem uma idade(...) Sem ser idade escolar né, é uma sensação de liberdade e de querer aprender muito sabe? De repente você vê lá uma pessoa te ensinando, falando, eu anotava tudo que os professores falavam, tudo, tudo. E os alunos(...) Entao assim, era uma sala que tinha um pessoal da minha idade, até porque era um curso(...) Eu fiz um curso de tecnólogo em recursos humanos, então tinha assim, umas dez pessoas mais ou menos da minha idade e tinha um pessoalzinho mais novo, e aí, claro que é uma coisa natural você acaba se agrupando às pessoas que tem mais o seu perfil né, e a gente se dava muito bem na sala, mas assim, o pessoal novo, eles não entendiam porque tudo que o professor estava colocando lá, a gente estava anotando sabe? Aquela coisa assim, de anotar detalhes de uma informação, e aí quando chegava em um dia de prova, cade o caderno da Cecília? Mas gente, aquilo era assim, uma coisa absurda, que todo mundo queria: "Deixa eu ver o que você anotou!" O meu e das colegas ali que tinham a mesma postura, mas é uma sensação de você não ser mãe, não ser dona de casa, não ser funcionária e ser aluna, é uma sensação muito grande de liberdade, onde a responsabilidade era só minha. Então assim, eu estava lá naquele momento e se eu queria tirar proveito de todo aquele investimento e de tudo aquilo que estava sendo colocado para mim, só dependia de mim... Então é uma sensação muito boa de liberdade, onde inclusive naquela época eles queriam que eu fosse representante de sala, eu falei: "Gente eu não vou ser representante de sala, porque eu quero ser simplesmente uma aluna, eu não quero ter a responsabilidade de uma representante de sala, que eu acho que vai ser diferente de um de vocês que é mais jovem e que vai ter uma visão diferente, por que se eu sou representante de sala eu vou ter a responsabilidade de todos vocês em mim, e eu não quero ter essa responsabilidade, eu quero simplesmente ser uma aluna". Então assim, passou muito rápido, foi muito bom. Eu por duas vezes, como foram quatro semestres, o primeiro de ingresso não e dos outros três, por duas vezes eu fui a melhor aluna da sala,[risos] e fiquei sabendo assim por acaso, tinha um sistema de desconto lá de bolsa e de repente eu recebi uma carta em uma virada de semestre me parabenizando, que eu tinha um desconto por ter sido a melhor aluna da sala. Eu não acreditei, eu falei: "Gente, que alegria né", então assim, foi muito bom, foram dois anos de muito aprendizado, e de uma sensação de liberdade naquele momento em que eu estava na sala de aula muito grande, é uma responsabilidade só minha, que só dependia do que eu queria, se eu queria estar muito preocupada eu estava, mas se não também, não tinha cobrança sabe? [50']

Pergunta:
Cecília, tem alguma curiosidade, alguma história divertida, um acontecimento que você ache bacana destacar dessa sua trajetória aqui na universidade? Tem algo que vem na memória agora, relação com as pessoas, nós falamos de professores, falamos de estudantes, com outros funcionários, quer dizer, um dia que ficou na memória que você quisesse destacar?

Resposta:
Poxa vida(...) É, uma coisa que me marcou muito que foi isso que eu já acabei de colocar, foi esse agradecimento desse aluno, foi uma coisa assim que realmente me pegou muito de surpresa, apesar de ter sido de aluno e não de funcionário mas foi uma coisa que eu aprendi lá dentro da universidade, que assim, as pessoas, elas são gratas de uma forma ou de outra, porque esse agradecimento desse aluno me pegou muito de surpresa, eu nunca imaginei que a minha função lá era tão importante para aquelas pessoas sabe? E o que me marca lá, que me deixa as vezes feliz é quando eu(...) Os próprios colegas ali, as meninas que trabalham comigo, as vezes vem e me agradecem por alguma orientação que eu dei, assim porque eu faço tudo isso e eu acho que é uma coisa natural, as vezes a pessoa não está bem, ou não está contente com alguma coisa e ai a gente vai conversar para tentar entender, para tentar ajudar, e depois a pessoa vem e agradece. Então esses agradecimentos de repente aparecem assim, é uma coisa que as vezes me surpreende porque não é uma coisa muito comum hoje em dia né? Alguém vier agradecer você por uma palavrinha ou por uma ajuda que para você é uma coisa tão normal. Agora uma coisa que em toda essa trajetória me marcou muito foi realmente esse aluno chegar lá no atendimento e que já faz um tempo também e de repente me agradecer sabe? Eu comecei a enxergar o meu atendimento de uma outra forma depois desse dia, eu acho que isso também para mim foi um aprendizado, porque eu não tinha noção disso, eu não tinha noção que eu podia influenciar tanto na vida de uma pessoa. Então eu acho que isso é uma coisa que me marcou e que me ensinou também.

Pergunta:
Como você define a USCS?

Resposta:
Como eu defino a USCS(...) Olha, a USCS é um local onde não existe um dono mas as pessoas que passam por lá, a gente enxerga que procura sempre fazer o melhor e para mim, tentar fazer o melhor no sentido do que isso é importante para minha pessoa é que nós temos dentro da universidade uma família, que tem sim os seus problemas, as suas diferenças, mas que na hora de um problema maior, a gente pode contar com todo mundo lá, inclusive com a reitoria, que apesar de se renovar a cada quatro anos, são pessoas que estão lá conosco o tempo todo e que apesar de todas as diferenças, de todos os problemas e de todas as reclamações que no geral a gente escuta, por que reclamar as pessoas reclamam, aquilo é uma família. Por que dentro da nossa família a gente tem as diferenças, as divergências, mas nós estamos sempre lá, quando a coisa aperta, a gente pode contar com quem está lá dentro. É o meu ponto de vista, inclusive não diretamente assim só se eu precisar de alguma coisa, quantos funcionários não passaram por problemas dentro da universidade e que foram ajudados de uma forma ou de outra por todo mundo, pela união das pessoas. Então assim, eu exergo a USCS como uma família, uma família onde tem as pessoas que valorizam e aquelas que também não valorizam mas é uma família e mesmo os que não valorizam sabem que podem contar com quem está lá, então eu enxergo desta forma. [55']

Pergunta:
E como você define a Cecília?

Resposta:
Ah... A Cecília é uma pessoa que gosta do que faz, cresceu, virou uma mulher. Entrou lá uma menina, se transformou em uma mulher e tem muito a agradecer por estar lá. Porque eu acho que a gente só está onde a gente gosta e onde gostam da gente, porque se não, a gente não fica. Então eu cresci ali, e ah eu espero ficar ainda um bom tempo, claro, sendo útil, por que eu acho que a gente tem que ficar em um lugar quando a gente é útil, e não ficar lá só por ficar e reclamar por reclamar sabe? Eu cresci lá pessoalmente e profissionalmente e quero aprender ainda muito mais e sou muito grata.

Pergunta:
Cecília a gente já está chegando no final, mas eu queria voltar, lembro que você falou de São Caetano, ali do bairro Barcelona, sua primeira infância né. Você mora ainda em São Caetano?

Resposta:
Agora moro. Saí e voltei.


Pergunta:
Queria que você falasse um pouquinho sobre o que mudou na cidade e fazer um paralelo entre a infância e a adolescência sua e dos seus filhos que você enfim criou também aqui na região né....

Resposta:
Bom, lá na minha infância eu acho assim, a gente podia brincar mais na rua, a gente podia ficar no portão conversando, existiam perigos diferentes dos nossos hoje, então assim, nós estamos ainda no mesmo bairro, em ruas próximas, meus filhos inclusive cresceram na casa lá onde eu fui criada, porque eles ficaram todo esse tempo da vida deles enquanto criança lá com a minha mãe, só que eles tinham uma liberdade mais restrita com relação a brincar na rua, isso não existiu na época deles. Apesar deles estarem na mesma casa onde eu fui criada, a infância deles foi diferente da minha nesse sentido, tinha uma liberdade de rua, de convivência com vizinhos e eles não. Então eu acho assim, mudou tudo, hoje os perigos são outros, a vida é outra, mas a minha infãncia eu acho que foi tão feliz quanto a deles porque os meus pais né, os meus pais deram toda essa estrutura para mim e para eles também. Só que eles cresceram em um mundo mais tecnológico, onde eles tiveram uma infância dividida entre brincar no quintal, onde eu brincava na rua, então uma liberdade mais restrita, mas com muito carinho e São Caetano cresceu dessa forma, eu acho que hoje tem um incentivo muito grande para gente de lazer e de espaço para se ficar na rua já que hoje não se pode ficar na rua na porta de casa, então eles tentam proporcionar isso para as crianças mas, infelizmente o perigo é maior, então é difícil a gente dar essa liberdade para a criança poder ir lá fora e brincar, coisa que eu tive né, eu podia, eu brincava na rua, jogava bola e eles não puderam fazer isso(...) Acho que é isso...

Pergunta:
Cecília, tem algo mais que você gostaria de destacar, que você gostaria de deixar registrado como memória para esse projeto?

Resposta:
Ah, eu acho que eu só quero agradecer por poder estar aqui contando um pouquinho de mim né, e assim, nunca imaginei que um dia eu fosse fazer parte de tudo isso, de toda essa trajetória da universidade. Mas fico feliz por poder ter ajudado a gente chegar onde nós chegamos e é isso, eu agradeço só.

Pergunta:
Parabéns Cecília e obrigada.
Resposta
Obrigada. (60']

 

 

 

 

 

 


Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul